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Patrimônio da Semana: Produção do charque e a escravidão

Charque foi a maior fonte de riqueza de Pelotas durante o período colonial, que acarretou consequências principalmente (e também) nas relações sociais e raciais


Pelotas, cidade conhecida historicamente pela presença da produção e da comercialização do charque durante os séculos XVIII e XIX. As charqueadas ocasionaram a maior fonte de riqueza durante o período colonial, não marcando somente as atividades econômicas, mas determinando também as condições trabalhistas, sociais e raciais.

Charqueada é o local onde era produzido a carne salgada e seus subprodutos. Em Pelotas, muitas estavam localizadas as margens do rio São Gonçalo, especialmente no bairro Passo dos Negros. O ambiente para executar este trabalho foi escolhido estrategicamente devido a água do rio, pois, o que não era aproveitado da carne animal, era escoado no oceano atlântico. Estima-se que a cidade continha 40 charqueadas, e o número de 600 bois por dia por charqueada e 6,5 toneladas diárias de sangue por charqueada.

O surgimento deve-se a grande seca na região nordestina do Brasil em 1790, que assolou o rebanho das capitanias. Com isto, Pelotas se consolida a maior cidade de produção do charque, representando entre 80 a 85% da comercialização e produção, enviando para muitos lugares brasileiros e exterior, principalmente para Salvador, Recife, Argentina e Uruguai. Inicialmente eram apenas galpões de pequenas estruturas até a virada do século XVIII para o XIX, em que se fortifica as charqueadas. 

O charque era alimento para os escravos que consumiam os músculos intercostais dos animais e era vendido para marinheiros. Os escravos que trabalhavam nas charqueadas, executavam o que era considerado na época, uma das piores funções que um escravo poderia ter durante a colônia. A cidade de Pelotas era considerada “castigo” para os escravizados de fora do estado do Rio Grande do Sul.

Os escravos eram submetidos ao tratamento desumano, de acordo com o Documentário "Olhares sobre Pelotas - A sociedade do Charque", apresentado no Youtube, o ambiente era sagaz, insalubre em muitos aspectos como:  pelo trato da carne com o sal (consumia as pontas dos dedos), mau cheiro da carne e do sangue, presença de animais peçonhentos e pestilentos, infecções, muita violência do capataz contra os escravos, entre outros aspectos.

Apesar disto, os escravos nunca aceitaram suas condições, planejavam fugas, lutas e resistências, com isto, nascem os quilombos, lugares de sobrevivências e símbolos de luta, após os negros conseguirem fugir dos locais dos quais os mesmos eram escravizados. Não somente são presentes na cidade de Pelotas, mas em Tapes, São Lourenço do Sul e aos redores. Os quilombos representam territorialmente estratégias, combates, conhecimentos, culturas, dialetos que os negros tiveram durante muitos anos para conseguirem viver com o mínimo de dignidade.

Pelotas já possuiu mais da metade da população negra. No que diz respeito às charqueadas, em cada uma havia de 60 a 70 escravos, e no que se trata a riqueza da elite pelotense de charqueadores no passado, deve-se principalmente ao trabalho forçado e desumano que os negros fizeram durante a escravidão brasileira.

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Fonte: Dicionário da História de Pelotas e "Olhares sobre Pelotas - A sociedade do Charque" 

Imagem: Fachada de uma senzala das mulheres e das crianças, por: Helena Almeida

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